Neste post, apresentamos uma análise musical da cadência do Allegro di Concerto alla Mendelssohn de Giovanni Bottesini para contrabaixo solo e orquestra.
Uma leitura muito interessante aos amantes da música e sobretudo, aos apaixonados pelo contrabaixo.
BOTTESINI – O Allegro di Concerto “alla Mendelssohn”
Podemos considerar o Allegro di Concerto “alla Mendelssohn” em mi menor de Giovanni Bottesini (1821-1889), o mais célebre mestre-contrabaixista do século XIX, uma das obras mais desafiadoras de toda a literatura para contrabaixo como instrumento solista.
Antes de tudo, chama-nos atenção o ambicioso e consistente projeto formal que orienta tanto a estruturação interna das diferentes partes constitutivas da obra (unidades semântico-formais), como a relação dessas mesmas partes entre si. Uma paráfrase relativamente estrita do consagrado concerto para violino e orquestra ― também em mi menor ― de Felix Mendelssohn (1809-1847), um dos fundadores e mais representativos compositores do chamado “romantismo musical alemão”.
Logo, saltam aos olhos a acentuada dificuldade técnica instrumental e a elevada flexibilidade agógica (variações internas de tempo/andamento) que a partitura impõe. Isto, portanto, exige do solista e orquestra (ou pianista acompanhador), de modo implacável, a manutenção de um notável nível de concentração ao longo de toda a obra.
A Cadência – contrabaixo solo
Na estrutura ou “forma” de um Concerto, o trecho denominado cadência é o momento em que o solista costuma exibir, sem acompanhamento orquestral, as mais diversas possibilidades técnicas, quase “malabarísticas”, de seu instrumento.
Particularmente, a virtuosíssima Cadência do Allegro di Concerto, parece-nos apresentar passagens emblemáticas. Assim, passemos à analise demonstrativa de algumas delas.
Ao compasso 191, logo ao início da cadência, temos uma escala de Lá Maior a ser executada exclusivamente sobre a 3ª corda (exceto sol#) para que possa ser conectada a um arpejo em harmônicos, sempre sobre a 3ª corda, culminando com a oitavação da nota de chegada, respectivamente, o último Lá do instrumento, executado ou in loco (sobre a 1ª corda), ou, alternativamente, como harmônico “seminatural” (sobre a 2ª corda):
Em seguida, entre os compassos 197 e 200, temos uma estonteante sequência de arpejos desde o grave ao acutíssimo do instrumento, culminando sempre sobre harmônicos (Gm, G7, C e A7):
Por fim, a partir do compasso 201, uma longa sequência de arpejos de três notas (à exceção do segundo arpejo, que possui quatro), quase improvisatórios, a serem executados de início liberamente (livremente). Porém, aos poucos, vai retomando o tempo e conduzindo à reentrada da orquestra com o tema principal (reexposição ou recapitulação). Como na distintiva passagem do concerto de Mendelssohn, quase simbolicamente, com a bariolage (atravessamento continuado de cordas) em staccato volante (notas curtas executadas “fora da corda”):
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