Gustavo Fontes

Giovanni Bottesini: O “Herói Romântico” do Contrabaixo

Giovanni Bottesini

Nesse conteúdo, convidamos a uma leitura sobre Giovanni Bottesini aquele que, para muitos, é considerado o “Paganini do contrabaixo”.

Segue, então, parte de sua biografia, informações musicais e uma demonstração em vídeo de uma de sua obras mais virtuosísticas: Allegro di Concerto “alla Mendelssohn”.

Os Heróis do Romantismo

O “Romantismo” ― estilo e estética prevalecente na Europa do século XIX (evidentemente, com seus respectivos reflexos em todas as formas de expressão artística) ― caracterizou-se em música, dentre muitos outros aspectos, pelo surgimento dos grandes virtuoses instrumentistas, os denominados “heróis românticos” dos mais diversos instrumentos musicais.

Assim, durante o período, proliferaram nomes como os do italiano Niccolò Paganini (1782-1840), herói romântico do violino, e do húngaro Franz Liszt (1811-1886), herói romântico do piano.

Dentro do universo do contrabaixo e dos contrabaixistas, embora este seja, certamente, muito mais restrito do que o universo do violino e o do piano ― instrumentos de maior “protagonismo”, e, consequentemente, de maior divulgação e penetração social ―, o grande nome é unânime e inequívoco: Giovanni Bottesini (1821-1889, também italiano, como Paganini).

No entanto, o que faz dessas grandes personalidades da música instrumental do século XIX referências incontestes de seus respectivos instrumentos até os dias de hoje? Abaixo, elencamos três fatores que consideramos de grande relevância:

  •  A promoção de um vasto desenvolvimento das possibilidades técnicas e expressivas de seus instrumentos musicais.
  •  O legado de uma literatura instrumental artística e instrucional (composições, métodos, estudos) consistente, efetivo, influente e longevo.
  •  A construção ― se mais ou menos artificiosa ― de uma personagem artística mitológica, quase mágica, paralela à sua existência real.

Desenvolvimento técnico

Desde a perspectiva da história dos instrumentos musicais, o mais importante de tudo, a nosso ver, foi o notório desenvolvimento das possibilidades técnicas e expressivas de seus instrumentos musicais que estes festejados mestres-instrumentistas produziram: o extraordinário alargamento de um “idiomatismo instrumental” denso, sólido, robusto e confiável.

O chamado “idiomatismo instrumental”, em suma, consiste de todo o conjunto de peculiaridades, convenções, capacidades e limitações que é abrangido pelo vocabulário técnico, tímbrico e expressivo de determinado instrumento musical.

Isto é: técnicas específicas de execução; possibilidades físicas, mecânicas e expressivas; procedimentos típicos de escrita; ideias e figurações musicais derivadas do manuseio concreto do instrumento; controle e determinação, consciência do grau de dificuldade técnica e de exequibilidade de trechos instrumentais específicos; conhecimento do repertório pré-existente e do desenvolvimento histórico do instrumento; e assim por diante.

 O Contrabaixo no posto de solista!

Giovanni Bottesini

 

Giovanni Bottesini, nosso aclamado mestre-contrabaixista, tinha como maior característica a emulação ao contrabaixo do estilo belcantista italiano da primeira metade do século XIX, canonizado por autores como Gioachino Rossini (1792-1868), Gaetano Donizetti (1797-1848) e Vincenzo Bellini (1801-1835).

 

Tal procedimento era à época, sem dúvida alguma, inédito e, portanto, inusitado. Porém, é preciso ressaltar que até os dias de hoje muitos ouvintes ainda são tomados de surpresa ao escutarem um contrabaixo alçado à posição de solista ― em oposição à sua função tradicional de instrumento de acompanhamento ―, “cantando belamente” como um violoncelo ou um violino.

 

Mais além, Bottesini nutria, do mesmo modo, grande admiração por compositores de música instrumental de seu tempo. Sobretudo, pelo grande mestre do piano polonês Frédéric Chopin (1810-1849), e pelo prodígio alemão do piano, da regência e da composição Felix Mendelssohn (1809-1847).

Giovanni Bottesini e o Allegro di Concerto “alla Mendelssohn”

É justamente como uma espécie de “reação contrabaixística” ao célebre concerto para violino e orquestra em mi menor, Op. 64, de Mendelssohn ― mais precisamente, como paráfrase musical, isto é, como obra que toma por modelo outra obra (entenda-se, que se “inspira” nela, sem exatamente “copiá-la”) ― que surge seu Allegro di Concerto “alla Mendelssohn” –  para muitos, a mais emblemática peça avulsa de toda a literatura para contrabaixo acústico do século XIX, por seu brilhantismo virtuosístico, se não também por seu vulto e ambição formal.

Escutemo-la atentamente!

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About Gustavo Fontes

é professor de contrabaixo da Escola Municipal de Música de São Paulo (EMMSP) e da Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP), também na cidade de São Paulo – duas das maiores escolas de Musica do Brasil. É graduado em música pela USP e pós-graduado na Alemanha pelas Musikhochschule Köln (Orchester – Examen) e Musikhochschule Mannheim (Solisten – Examen). Atualmente, é pós-graduando em musicologia do Departamento de Música da USP. Gustavo tem atuado como solista, recitalista, camerísta, músico de orquestra e professor convidado em numerosos relevantes grupos artísticos e festivais de música por todo o Brasil e no exterior.

4 thoughts on “Giovanni Bottesini: O “Herói Romântico” do Contrabaixo

  1. Paulo disse:

    Muito bom!!! O romantismo foi e ainda é um dos pontos altos da nossa história!!! E o contrabaixista é o chefe da banda!!! Obrigado!!!

  2. Gustavo Fontes disse:

    Muito obrigadio, querido Paulo. O importante é que procuremos investigar e respeitar as características de cada estilo, não? Tanto na chamada música erudita quanto na chamada música popular. Definitivamente, o contrabaixista é o chefe da banda! Rsrsrs

  3. minha paixão pela musica erudita – POR BOTTESINI ( mesmo sendo um músico popular), me fez conhecer seu blog.
    parabens

    1. Gustavo Fontes disse:

      Muito obrigado pelo interesse, João!
      Fico muito contente em ajudar a divulgar a obra do Mestre Bottesini!

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